24.10.07

O Jardim Secreto


Gosto de ditos populares. Uma vez até comecei a escrever aqueles dos quais lembrava em um caderninho. Uma tentativa tolinha de bater o recorde mundial de colecionadores de frases estranhas das quais a gente não quer ou não deve esquecer. E quem não se lembra de pelo menos uma centena deles? Tema para mesa de bar... O hábito de registrar os, digamos, vernáculos já era um indício de que queria conhecer o povo para falar com ele ou pra ele. Se o momento de agora valesse um ditado, puxaria do realejo da memória:
“O hábito do cachimbo deixa a boca torta”.
E não falo aqui apenas do hábito de escrever para o blog, que está virando um doce veneno, mas do método que tenho para realizar tal tarefa. Hoje, como não escrevo do escritório, sinto uma falta estranha do “entorno” e me bate a insegurança de saber se o texto final seguirá ou não o seu nobre propósito. Acho que a gente acaba cumprindo determinados papéis quando estamos em lugares específicos. O cérebro reconhece tempo, espaço, cheiro, barulhos característicos... Tem certos lugares que deixam essa marca na gente. Tenho a fotografia mental do lugar onde fui criada, sei o cheiro da cantina do colégio, quando escuto certas músicas, minha mente viaja automaticamente ao parque onde trabalhei – e ouvia diariamente a mesma seleção de canções. Coisas que ao invés de me fazerem pirar, despertam o melhor de mim. Tem gente que também tem esse dom, de deixar marcas como um DNA da alma que nem tempo e nem espaço apagam. Muita gente desperta o que há de melhor em mim e deixa seu perfume sem nem mesmo fazer esforço para tal. E em relação a carinho, a progressão é necessariamente geométrica. E o perfume se espalha generosamente. Durante o final de semana, quase me desidratei de tanto chorar com o programa do Teleton, que completava 10 anos. A sensação é de que diante de tantos casos de crianças que lutam pela superação de suas limitações, somos pessoas pequenas, que subaproveitam o seu próprio “entorno”. Se a sua própria vida fosse um jardim, como ele estaria sendo cuidado hoje, agora? Espalharia ele um doce perfume? Seria abrigo para aqueles que querem se deleitar da melhor paisagem que podem encontrar? Ser o melhor para o outro é também ser o melhor que você pode ser para si mesmo. Se o entorno não vai bem, as flores também murcham... Deixo como destaque a frase de um dos meus filmes favoritos: O Jardim Secreto (1993)


“O feitiço foi quebrado. Meu tio aprendeu a rir e eu aprendi a chorar. O jardim secreto está sempre aberto agora. Aberto, e desperto, e vivo. E se você perceber da maneira correta vai notar que o mundo inteiro é um jardim”.

3 comentários:

Fernanda Bastos Bijoux disse...

Inpirada e inspiradora como sempre! Arrasou Bia! beijocas

Ellen Fernandes disse...

Amei a citação... Boa viajem para um mundo dificil de encontrar...

Bibi disse...

Ellen: esse mundo está dentro de nós! E essa é a maior viagem que podemos fazer!