15.11.07

Amor Maduro

A primeira vez que vi Tereza / Achei que ela tinha pernas estúpidas / Achei também que a cara parecia uma perna / Quando vi Tereza de novo /Achei que os olhos eram muito mais velhos do que o resto do corpo / (os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse). / Da terceira vez não vi mais nada / Os céus se misturaram com a terra / E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águasTereza de Manuel Bandeira


Nunca fui acostumada a decorar versinhos. Também não tenho por hábito me lembrar das poesias, embora elas me emocionem, mesmo quando estou num very irrésistible moment. Contrariando o curso normal dos acontecimentos, este poema de Manuel Bandeira foi a primeira coisa que veio à mente para ilustrar a impressão da semana...



A primeira que vez que vi o diretor teatral Aderbal Freire-Filho foi justamente em um palco. Era a entrega do Prêmio Shell de Teatro no Armazém 5 do Cais do Porto. Ano de 2003, mês de maio. Naquela ocasião ele era uma perna para mim. Ele era “algo” que eu não podia compreender. Foi o vencedor da categoria Melhor Diretor e subiu ao palco, ovacionado pela platéia. Seu discurso, loooooongo, soou meio desconexo. Hoje, voltando a lembrar daquele dia, acho que me irritei por considerá-lo uma perna. E ele era a perna mais cabeluda que eu já tinha visto na vida.



A segunda vez que vi Aderbal Freire-Filho, a situação era exatamente a mesma. Ano de 2004, mês de abril. Me senti presa em um déjà vu. Evento, local e troféus eram os mesmos. E ele ainda era aquele cabeludo, barbudo, de óculos, extasiado de felicidade pelo bicampeonato – por O Que Diz Molero. Mas já não parecia mais uma perna. Eu já sabia seu nome e que o discurso seria loooooongo. Mas, surpresa, naquele ano ele disse que não falaria muito. Eu já estava até achando o sujeito simpático. Fez o mesmo discurso inflamado, mas soube colocar bem as palavras. Parecia apaixonado...e já devia estar...(*explico mais à frente).


Não lembro a primeira vez que vi Marieta Severo, mas para mim ela sempre foi a essência feminina do poder. Não aquele garantido pela força, mas o conquistado através de um simples olhar. Acho que a primeira vez que tive que abordá-la foi na casa da Betty Faria, num aniversário cheio de gente poderosa e eu, a estranha à trabalho. Me senti o Nemo num aquário de tubarões. Naquela noite, porém, ela foi absolutamente maravilhosa comigo. Fiquei meio boba, meio que segurando o queixo.
A primeira vez que escrevi sobre Marieta, fiz uma matéria muito bonitinha, sobre a animação dela. Adivinha aonde? Na entrega do Prêmio Shell de Teatro. Ano 2003, mês de maio. O título era: Marieta exibe seu lado pé-de-valsa. Uma das frases dela dizia:
“Fui eu que li o texto de A Prova e na hora percebi que era a Andréa Beltrão quem tinha que interpretá-lo”, elogiou Marieta, que fechou a noite celebrando a vitória da amiga — e de Aderbal Freire-Filho (61), o melhor diretor, pela mesma peça — na pista de dança.
Além de conhecer, Marieta também tinha uma ligação com Aderbal.

No ano seguinte, adivinha? Fiz outra matéria sobre “a atriz dançante + seus rebentos pula-pula” no mesmo prêmio. O título era: As Herdeiras de Marieta Severo. Voltando o meu pensamento para aquele ano, Marieta também parecia diferente...

Juntando os fatos hoje, acho que o amor estava no ar e ninguém podia imaginar e tampouco ver. Estava rolando algo entre esses dois! E eu estava lá, in the very moment! Muito louco perceber a materialização de um sentimento. Ela deu um entrevista para a Contigo em maio de 2004 e ao ser perguntada se estava com alguém, desconversou. O namoro só foi assumido em setembro. Claro, a mulher teve um casamento de 30 anos com Chico Buarque e ficou sete anos sem ninguém (aparentemente).




Em Tereza, Manuel Bandeira assinala a trajetória do conhecimento à paixão com surpreendentes imagens que começam com a estupidez das pernas da moça e terminam com uma espécie de convulsão apocalíptica, como se o amor tivesse um caráter surreal e divino. Essa semana topei com Aderbal duas vezes e confesso: estou apaixonada por ele! (nem preciso dizer que o fato dele ser coroa e de ter uma barba safada faz com que ganhe muitos pontos, né?) Um êxtase que não tem nada de sexual, mas uma admiração profunda e completa que me toma. E olha o que o amor de uma mulher – a Marieta (claro!) –, pode fazer: aquele cabeludo, barbudo, de óculos e fala desconexa, cortou o cabelo, aparou a barba e está borboletando pela cidade ao lado de uma mulher incrível com cara de apaixonado! (Extreme Makeover)


Ah, l’amour...
Chico Buarque com aquela pele caída no rosto e Aderbal bombando com a barba safada (tsc, tsc, tsc). Vida longa ao casal e um brinde ao amor maduro!

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