8.11.07

De Olho No Vizinho


Ontem tive que pegar o metrô para uma daquelas viagens longas e chatas. Quando não tenho uma pessoa ou leitura para me acompanhar, as soluções mais práticas são: 1) Observar as pessoas e suas manias, sem, contudo, julgá-las. Imaginar a história de vida de cada uma delas, analisando de roupas a atitudes. Quando rola um papo ao celular é mais engraçado ainda, porque a intimidade dos outros invade a minha própria e certos atos reforçam a máxima de que de médicos e loucos todos nós temos um pouco. Mas era noite e me faltava o acessório básico para essa missão: meus óculos escuros indefectíveis. Sem eles, eu sou tímida. 2) Pegar um papel e uma caneta e começar a fazer listas das coisas que tenho pendentes , à resolver e/ou realizar. 3) Ficar lembrando de coisas da infância, revendo fatos e rememorando histórias e sensações. Me perco nesses pensamentos e as vezes começo a rir sozinha, baixinho, é claro, como se ninguém mais à minha volta tivesse importância. E tudo o mais deixa de ter mesmo! Adoro esse universo particular.

Durante essa tal viagem, me veio uma baita inspiração e uni os itens 2 e 3. Abri o baú da memória e procurei por papel e caneta dentro da minha bolsa. Ironicamente, não tinha um bloquinho para anotar as lembranças. Mas, como gosto de improvisar, peguei a minha conta de celular - já paga - e comecei a escrever. Quase pedi à moça sentada ao meu lado para me emprestar a revista que ela não estava lendo, seria o apoio perfeito. Achei, a tempo, que seria muita cara de pau. Tem muitos momentos em que eu perco mesmo a medida em nome das soluções práticas e plausíveis. As minhas soluções. Depois até me arrependi, já que a tal moça ficou tentando ler o que eu escrevia. TENTANDO...Acho que ela também queria uma distração para a viagem dela e achou, no mínimo, fato curioso uma pessoa sacar da bolsa uma conta de celular e começar a escrever sem parar em letras miúdas, swingando no compasso do metrô, já que o meu apoio foi a própria bolsa. Tem horas que a gente é mesmo de circo.
Eu ri da dificuldade que ela estava tendo ao tentar ler as letras miúdas e pensei: ta vendo? Não quis me emprestar a revista, agora, vai ter que rebolar para entender o que eu escrevi. Coitada, nem percebeu que eu descontava nela a vergonha de fazer um pedido estranho: moça, me empresta essa sua revista ai de baixo? rsrsrsrs
Duas notas de rodapé. 1) Eu sempre ficava me perguntando porque as operadoras de celular gastavam tanto papel em uma conta. Além da propaganda que sempre vem no envelope, a gente recebe o recido da conta detalhada e mais um papel que parece resumir o principal. A resposta não tardou a ser comprovada: graças a Deus eles fazem isso! Só assim a minha viagem cheia de tédio pôde se tornar um momento de ócio criativo (rememorando o post de ontem). Alguém já viu outra atividade prática para tal desperdício? Aviãozinho não vale...se bem que... muitos papéis que viraram barquinhos já me salvaram de grandes aborrecimentos. Mas isso é história para outro texto. Posts para o bdbblog (Bibi De Bicicleta Blog) por favor!

2) Há algum tempo eu ficava para morrer com aquelas pessoas que “filam” a sua leitura no metrô e no ônibus. Eu achava cara de pau alguém ficar lendo junto com você, que gastou grana, tempo e energia tentando equilibrar o jornal standard (jumbo)num veículo em movimento. E quem nunca sofreu desse mal, que atire a primeira pedra! Vai me dizer que não é quase irresistível alguém abrir qualquer coisa para ler e o ato não chamar a atenção de quem está de volta. Se a chamada for fofca então...Fica quase um time de futebol enfileirado para a foto oficial do jogo atrás de você. Quando a raiva sobe, você fica ali, esperando a hora certa para dar o troco no vizinho "entrão" e virar a página justo na hora em que ele se mostra mais interessado. Tem gente que chega a respirar fundo! A roer unha! Já fizeram isso comigo, by the way. Até que um dia...eu conheci uma pessoa que não ficava perturbada pelo colega estar filando descaradamente o seu jornal. Pelo contrário, ela ficava nervosa, porque não sabia se já podia virar a página. Quase perguntava: posso virar? Senha básica para o início de um papinho sobre a notícia. Depois de morrer de rir, fiquei como?! Uma pessoa que se propõe a levar informação às outras, não pode ter esses pudores de compartilhar justamente a informação que se tem em mãos. Essa é a verdadeira notícia em tempo real: o tempo real de ler. Hoje, conservo o vício de observar pelo canto de olho com certo incômodo meus companheiros de leitura, mas isso já não me perturba mais.


Para encurtar essa história, que já virou uma crônica dos dias modernos, vamos ao resultado, senhoras e senhores. Escrevi naquele papel melequento e com garranchos miúdos algumas das minhas memórias, de forma poética e sem muito padrão. Não sei ainda no que vai dar (o resultado, provavelmente, estará no próximo post), mas tenho que confessar que foi muito gostoso lembrar do tempo em que brincava na rua, em que estudar era a grande responsabilidade do universo. Todas essas coisas são, em si mesmas e com suas devidas importâncias, responsáveis pela formação de quem sou. E mais, do que ainda quero ser e do que não é e nem será mais uma escolha.

Malandragem

Quem sabe eu ainda
Sou uma garotinha
Esperando o ônibus
Da escola, sozinha...
Cansada com minhas
Meias três quartos
Rezando baixo
Pelos cantos
Por ser uma menina má...
Quem sabe o príncipe
Virou um chato
Que vive dando
No meu saco
Quem sabe a vida
É não sonhar...
Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança
E não conheço a verdade
Eu sou poeta
E não aprendi a amar
Eu sou poeta
E não aprendi a amar...
Bobeira
É não viver a realidade
E eu ainda tenho
Uma tarde inteira...
Eu ando nas ruas
Eu troco cheque
Mudo uma planta de lugar
Dirijo meu carro
Tomo o meu pileque
E ainda tenho tempo
Prá cantar...




Uma homenagem à Julia - filha de uma grande amiga de muitos encontros e tantos loucos momentos - que na foto faz o que eu queria estar fazendo com muito mais freqüência, no lugar dos meus sonhos. Julia habita esse lugar, duplamente.

2 comentários:

Anônimo disse...

biuxaaa adorei sua homenagem.. podes crer que vc tb e uma grande amiga.. adoro sua companhia e com certeza vamos repetir td isso todas asvezes que vc vier a terra do tio sam. Adoro!

Unknown disse...

A Julia é realmente uma fooooofa. Quando ela fala misturando espanhol com inglês então... é uma graça! A sua irmãzinha Melanie tb é linda d+.