24.3.09

Meus Braços


“Diante de uma dor pessoal compreendemos o valor dos afetos que até então pareciam naturais, parte de nós...” Lya Luft.

Vamos transcender a autora da frase [sei que ela é polêmica e alguns dos meus leitores especiais têm certa aversão pela escritora. Normal, ninguém pode agradar a todos e querer tal mérito é buscar o imponderável]. Vamos nos ater ao profundo significado de suas colocações. Li essa frase em uma revista que estava jogada aqui em casa. Exemplar antigo sim, de onde tirei a frase, que ganhou nova compreensão diante de fatos urgentes da vida.

Deus me deu muitos presentes em forma de amigos. Alguns deles acabam por se tornar a minha família escolhida, cujos laços não são sanguíneos, mas emocionais. Dessa forma, tenho alguns melhores amigos. Uma grande família escolhida por mim para dividir alegrias, tristezas, vitórias e segredos. Não gosto de agregar valor às pessoas. Na visão que tenho, todos fazem parte de um corpo, cada um importante na sua função, com suas características particulares e únicas.

Em uma semana eu vou ter que dizer adeus a um pedaço dessa família, que está de partida para outro país. Só de pensar, dói. E eu, sinceramente, gostaria que aquele que lê esse texto agora, saiba a dimensão do que estou falando. Porque só quem ama de verdade e é amado em retribuição, pode ter noção de que essas palavras não são a conjunção de algo piegas, mas de algo estrondoso e retumbante [com o perdão do exagero, que aqui encontra lugar]. E felizes são os que se permitem e se entregam ao amor.

Vivi e Ellus são casados. Amor compacto. Indivíduos únicos, também, para mim. Consigo amar a cada um individualmente e os dois ao mesmo tempo. Lembro como, quando, onde e porque nos conhecemos. Cada detalhe. E nos tornamos tão unidos, que as pessoas achavam que eu e a Vivi havíamos feito a mesma faculdade. Isso foi em Julho de 2005. Amor imediato.
E nesse tempo bendito, vivemos tudo o que se há para viver. E pareceu tanto e tão pouco. Nem sempre juntos, mas sempre por perto. Do lado de dentro. Testemunhei momentos especiais, mudanças, planos e mais mudanças. E mais planos e agora a mudança definitiva e para tão longe... Não sei me despedir. Não sei como é a dor de arrancar um braço. Meus braços estão indo para longe. Mas se a gente acompanhar a metáfora, eu posso acreditar que meus braços estão alcançando espaços maiores. Prontos para abraçar o mundo. Amor liberto.

Esse afeto tão natural, agora é parte de uma dor pessoal. Que eu queria não sentir, mas é preciso olhar e testemunhar a evolução pessoal da dupla tão amada por mim. Não há distância suficiente capaz de barrar o meu amor e a minha gratidão. Tem um trecho do verso de E.E. Cummings que eu gosto demais e que aqui cabe: “Carrego seu coração comigo. Eu o carrego no meu coração. Nunca estou sem ele. Onde quer que eu vá, você vai”.

Eu não sei me despedir. E não quero. Prefiro acreditar no até já. Contudo, é difícil demais me imaginar sem eles. Estão tirando o meu porto do lugar conhecido e agora, terei que saber que o porto seguro estará um pouquinho mais longe, mas lá estará. Amor tranquilo.

Eu não sei me despedir. E não quero. E me faltam palavras, embora as lágrimas expressem que é mesmo difícil transformar tudo em palavras. Texto não tem gestos. Estou confusa: triste e feliz. E tensa, por não conseguir traduzir o que sinto de verdade.

Eu não sei me despedir. E não quero. Mas quero deixar claro o meu amor. Que vai com eles. Recebi de uma amiga, uma vez, uma bênção irlandesa, que aqui também quero registrar, para tentar terminar, o que, na verdade, não tem fim:

"...que o caminho seja brando
a teus pés,
o vento sopre leve
em teus ombros.
Que o sol brilhe cálido sobre a tua face,
as chuvas caiam serenas
em teus campos.
E até que eu
de novo te veja,
que Deus te guarde
na palma de sua mão".

10 comentários:

Anônimo disse...

Suas fotos são ótimas e a sua declaração de amor muito mais.
Quisera eu ter alguém sentindo e expressando esse pedaço de coração que grita, mas tem que se calar. Que chora, mas tem que sorrir. Que ama e tem que se deixar levar.
Por que Deus nos faz assim? O amor é tão bom, mas sempre vem carregado de dor em algum instante, dor da separação, dor da morte, dor da frustração, dor da incompreensão, dor da mesmíce, dor do pouco caso, dor da saudade, dor da falta do olhar, dor da falta do abraço carinhoso, dor da falta de amor.
Felizes são estes que conseguiram angariar um pedaço do seu hangar e pousar na sua vida pra sempre, mesmo que distantes.
bj

Anônimo disse...

BIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
Caraca...amei...
Sinto o msm...agora q estao tao pertos de mim (fisicamente)....
Ai ai...
Penso q nem vc...nao sei me despedir...prefiro até já!
bjsssssssssss
PS: PARABENS! Já te disse e repito: escreva um livro...vc eh mais q excelente...vc eh brilhante!

Saulo disse...

Detesto despedidas! Porém, se forem inevitáveis, que sejam ao menos aqueles que são reversíveis, contornáveis "via" avião, carro ou barco...

Anônimo disse...

Duas músicas para você:

"E agora? Que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer... você só me ensinou a te querer e te querendo vou tentando te encontrar... vou me perdendo, buscando em outros braços seus abraços.... Perdido no vazio de outros passos, do abismo em que você se retirou e me atirou e me deixou aqui sozinho..."

E...

"Encontros e Despedidas
Milton Nascimento
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant

Mande notícias
Do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando...

Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero...

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega prá ficar
Tem gente que vai
Prá nunca mais...

Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...

São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida...

A hora do encontro
É também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida..."

Bibi disse...

Lucas, eu juro que pensei na segunda canção! Mas não podia sequer pegar para ler, porque ja estava chorando muito! Ia ficar desidratada! Porque a letra fala mesmo desse momento.

Fernando Rocha disse...

Lembrei de uma canção do Leonard Cohen: "Hey that´s no way to say goodbye". Em situações como a ilustrada em seu texto penso que todos por mais generosos que sejamos, somos na verdade egoísta (não se assuste, penso isso sobre mim também), mesmo que seja a agradável sensação de estar junto á alguém, temos um sentimento de posse.
Você é a Bibi da Pieve, pergunto porque sou admirador de três crônicas que foram publicadas no livro "As crônicas de prata", como li um comentário seu no blog da Alice, resolvi conferir.
www.neuroticoautonomo.zip.net

Bibi disse...

Fernando! Imagina! Seu comentário foi ótimo! Reflete o que eu penso também: somos egoístas. Temos esse sentimento de pose em cima de um sentimento de amor, até. Ou junto, sei não. Fato é que despedidas nunca são tranquilas, por mais que estejamos felizes, vem sempre um pontada, quase uma punhalada. rs
Não, eu não sou a Bibi Dapieve... Sou apenas a Bibi de Bicicleta... Um pseudônimo que escolhe para mim e meu blog. Para que a diferença fosse feita entre a Bia jornalista e a Bibi escritora...
Mas que bom que você veio parar aqui! Volte sempre!
Bjs

Anônimo disse...

Já estou pensando no reencontro, nas novidades e na saudade...que pode ser boa, (como é bom abraçar uma amigo que amamos e que sentimos MUITA falta!!).
Sabemos que a boa mão do Senhor está a lhes acompanhar, guardar e cuidar!!
Tudo é por Ele, pra Ele!
Só vemos em parte...
Vc fala com o coração!
Beijo

Daniele Lomba disse...

Anônimo nada...eu escreví, isso ai de cima!! Será que esquecí de assinar!!??

Dani Lomba

Bibi disse...

Esqueceu Dani!
Agora está registrado!
Agora, também, vc já sabe como usar essa ferramenta! hahhaa
Bjs