12.3.09

O Tio


Casos de Família - O Tio

Puxa vida, foi só lembrar de um episódio da vida do meu Tio E, para que um leque de opções me voltasse à mente. Porém, antes de mais nada, queria avisar ao Moratelli e aos possíveis hilários de plantão, que ser chamada de montinho de cocô só faz sentido quando justamente não fazia sentido algum! hahahaha Só na voz do meu tio o cocô soava a flores frescas, vamos deixar isso bem claro!

Prosseguindo a história. O Saulo lembrou nos comentários, que o meu tipo carregava um cacho de bananas para ir comendo no ônibus, durante a excursão. Era verdade! Tio E tinha mesmo um quê naturalista. Meu pai conta que uma vez foi lá na casa dele e alguém resolveu fazer uma faxina ou cozinhar, já não lembro. Só sei que encontraram um pé de feijão dentro da geladeira. Ainda bem que eu nunca vi, porque a comida dele boa para caramba! Vai ver era para ajudar na alimentação saudável dos sete filhos que teve, todos homens.

Meu tio não ligava muito para essa coisa chamada convenção. Gostava era de ter o povo à sua volta. Seus filhos devem ter sido a primeira platéia. Depois, todos fomos. Onde ele chegava, trazia consigo um arcenal de piadas. E destilava uma atrás da outra. Todo mundo já se preparava para rir, mesmo que aquela já fosse velha conhecida. Era um jeitão único. Quase todos os filhos dele também fizeram seu repertório. Alguns primos também. E filhos dos primos, meu irmão mais velho... A família é de causos e piadas. Para falar tinha que pedir senha.

Então, dentro do ônibus de viagem, ele se fazia. Ganhava o microfone e ninguém tirava mais de sua mão. Era o "Alô Silvio" rodoviário. Uma vez, estávamos chegando a uma cidade do sul do Brasil. O ônibus parou em frente ao hotel e a velharada começou a tomar impulso e coragem para levantar. Teve uma com o joelho ruim, que atravancou o caminho na escada. Todo mundo em pé, esperando, quando um danado solta o pior pum da história! Ninguém ia para frente e nem para trás. As janelas já estavam todas fechadas e eram daquele tipo mais complicado de abrir. Todo mundo passando mal com o pum hermético e o meu tio querendo apurar de que bunda aquilo havia saído. Foi um empurra-empurra. A história rendeu por dias! E a culpa recaiu sobre o cara mais rabugento da excursão, que resolveu soltar o dele em uma das paradas, longe de todos, no meio do mato... Quando um incauto passou por ali. Pronto!

Anos mais tarde, meu tio confessou que ele havia sido o autor do pum fatídico. E que a brincadeira havia ficado tão boa, que ele resolveu deixar rolar para ver onde dava. Deu no que não deu...

Meu Tio E morreu há alguns anos. Deixou um belo legado em forma de família. Em suas piadas, sempre dizia que queria ser enterrado ao som da música Romance de Uma Caveira, que ele recitava tal qual um verso, como seu carro-chefe. Um dos filhos lembrou do fato e recitou baixinho junto com uma das minhas tias a letra da canção:


Eram duas caveiras que se amavam
E à meia-noite se encontravam
Pelo cemitério os dois passeavam
E juras de amor então trocavam.
Sentados os dois em riba da lousa fria
A caveira apaixonada assim dizia
Que pelo caveiro de amor morria
E ele de amores por ela vivia.
Ao longe uma coruja cantava alegre
Ao ver os dois caveiros assim felizes
E quando os dois se davam beijos fúnebres
A coruja batendo as asas, pedia bis
Mas um dia chegou de pé junto
Um cadáver novo de um defunto
E a caveira pr'ele se apaixonou
E o caveiro antigo abandonou.
O caveiro tomou uma bebedeira
E matou-se de um modo romanesco
Por causa dessa ingrata caveira
Que trocou ele por um defunto fresco.

Tio E morreu como viveu: com graça!

5 comentários:

Alice ainda mora aqui disse...

Bibizita,

Só agora vi seu recao fuefo. Saiba que a recírpoca é mega verdadeira. E que, sim, rir da própria desgraça é se compadecer um pouico da desgraça alheia. Sorte pánóis!

besos

Anônimo disse...

Amei a musiquinha!

E quanta gente engraçada a gente vai perdendo ao longo da vida. Mesmo sem que eles precisem morrer pra isso...
Quando a minha vida começou, a minha família era enorme! Eram 7 tios-avôs e tias-avós, 16 tios e primos-tios e 11 primos.
E era tanta festa!
Final do ano, eu ficava hiper ansioso pra ir pra casa da minha avó, na Bahia. Era uma casa enorme, com 7 quartos, 5 salas, 2 salas de jantar, muitas varandas, 2 pátios, jardim, sótão e porão!
Tinham uns brinquedos guardados lá, de quando a minha prima era criança, uns ursos de pelúcia enormes, umas bonecas que andavam de velocípede quando vc dava corda e uma casa de bonecas de elouquecer qualquer um: as meninas por ser uma casa de bonecas majestosa e enorme e os meninos por ser a miniatura mais perfeita já vista.
Em dezembro, dia 24 à noite, todo mundo ia pra casa da minha avó. A família e agregados. Mais de 50 pessoas e as salas lotadas! Uns tocavam piano, outros recitavam poesia, as crianças corriam pelos pátios e agente morria de medo da escava pro porão. Sem contar que o sótão, já sem escada, era um ENOOORME mistério...

Dia 25 era almoço na casa da minha tia. Dia 28, niver da minha mãe. 29, niver da minha tia avó. E 31 era reveillon. Uma festa atrás da outra!

Aí o marido da minha tia-avó morreu. Depois foi a minha outra tia-avó. E foram indo um a um. Dos 11 filhos que o meu bisavô teve, só restam 3 hoje. A mais velha é a minha avó: vai fazer 89 anos em outubro.
E a minha tia se separou. E se mudou do apartamento com vista pro pôr-do-sol. E deixamos de frequentar o clube. E a minha outra tia se separou e, com o marido dela, se foram os almoços de domingo. E com a morte da minha outra avó, se foram os almoços no Humaitá, também nos finais de semana.

Morreram tios, primos, avós e amigos. E nunca mais a família se reuniu. E hoje em dia eu ligo pra minha avó e ela me pergunta: você mora onde? É no Rio ou em São Paulo? Toda semana.

E o Tivoli Park fechou. A Cidade da Criança também. E o Terra Encantada não chegou nem perto de suprir a nossa necessidade de diversão.

Triste eu? Fala sério! Um pouco melacólico sim, mas é o ciclo da vida! Aquela vida, aquela infância, acabou. Morreu para dar espaço à vida adulta, em que é a minha casa que recebe a festa de natal.

E as crianças agora são os filhos dos meus primos! E eu sou o tio adulto que diz a elas que não há perigo em descer ao porão!

E o parque de diversões? Ah! O parque de diversões! Hoje, eu construo o parque!

E a morte? Quando eu morrer, quero que as minhas cinzas sejam misturadas ao concreto da fundação de uma montanha russa.
E que escrevam lá: "Aqui jaz Lucas Ferraz. Muito contra a sua vontade...."

Beijão! E vida! Muita vida pra você!

Anônimo disse...

O comentário do Lucas tá competindo com o seu post! Ótimos: o seu post e o comentário dele!
Bj
Bia

Bibi disse...

Melhor assim Bacana! Posts que geram posts! Faço sempre isso com um amigo meu. Teve um cara, lá no blog do meu amigo que achou que eu estivessse pegando carona na genialidade dele... tsc tsc tsc.... Eu, aqui, fico super feliz de despertar o melhor das pessoas e ue elas contribuam por um blog melhor! hehehe
Bjs

Saulo disse...

Memorável pum!! Saudades!!