31.3.09

velocidade necessária

Reprodução/ Adriana Lima


No dia 17.02.2006 eu abri o BibideBicicleta assim: "Começar é sempre difícil, mas necessário. A partir do momento em que temos o compromisso de observar o mundo, novos espaços são criados dentro de nós mesmos. O lugar que sempre habitamos, torna-se um ponto misterioso, pronto para ser desvendado. Esse blog é a minha tentativa de aumentar o meu campo de visão e passear pela cidade com a minha bicicleta...com a velocidade necessária de quem aprecia e desfruta a paisagem".

Hoje eu comecei a me perguntar por que foi que comecei. Que sentimento era esse que me fez dar início a tudo isso que virou o BibideBicicleta? Retrospectiva. Não retrocesso. É preciso parar o processo, para se ter noção do todo. E sabendo no que me tornei, ter condições de me posicionar para onde quero ir.


Gosto de ter opções simples. Poucas. Mas ainda assim opções. E saber quais delas eu escolhi e com que intenção, durante boa parte do processo. Ou nele todo. Esse lance de "deixa a vida me levar" parece uma ode à aventura, ao acaso; mas também à inconsequencia. E mesmo conhecendo a mágica imprevisibilidade da vida [e estar sujeita e aberta a ela] sinto que sou responsável pelos meus passos e deixo ao acaso a surpresa de passos incertos. Surpresa. Não todos aqueles que eu preciso dar. Ninguém conseguiria viver de sobressaltos! Eu não poderia e duvido que você também!

O compromisso de observar o mundo é, de certa forma, a necessidade de se olhar por dentro. Porque é através do que vem de dentro, que você projeta a maneira com que vai racionalizar o que vem de fora. É um fluxo constante. Como a sinapse. E quando eu não conheço, há a experimentação. Há a degustação e a avaliação pela aproximação. Fica complicado compreender o que está ai fora, se por dentro existe um tal furacão, que te traga para o fantástico mundo de OZ, tal qual Dorothy e Totó.

Novos espaços são necessários. Lembre-se sempre disso. Temos a chance de agregar conhecimento útil até o último suspiro da vida. Mas ponderemos: de que adianta tanto espaço se a mobília é minimalista? Gosto da simplicidade, mas ela, para funcionar a contento, tem que estar aliada a funcionalidade. Esse blog aumentou meu campo de visão. Ele me transformou em uma espécie de revisionista; não da constituição política do meu país, mas da minha compleição [constituição do corpo; organização física; temperamento; disposição de ânimo; inclinação]. Fomos mudando: eu e a minha forma de escrever e contar a história. Fomos mudando: eu, minhas paixões, minhas ilusões, meus desejos, minhas definições de certos aspectos, o mundo à minha volta, algumas das minhas preferências, a intenção de certas curiosidades, o alvo de certas setas. Tudo passa. Tudo se transforma. Valores e crenças também. Evoluem, se consolidam. Caso contrário, se transformam em fardo e amarras.

Hoje eu não quis passear pela cidade com a minha bicicleta. E não foi a chuva fina que me afugentou. Nem o vento cortante, que em arrefeceu. A realidade é pontual: quis parar de andar de bicicleta e me aquietar. Encapsular os sentimentos mais gritantes. Daí pensei. E pensei. E vi que se existe um pra que, também existe um porque. Finalidade. Quem estou não tipifica quem sou. E sou feita de palavras, de muitas palavras. Embora hoje queira calar todas elas.

OBS: José Bino e Galera! Eu não vou parar de escrever não! Avisa em casa e na vizinhança! Hoje eu me senti vazia! E não quis pedalar! Pela primeira vez pensei em não mais escrever. Mas ainda não é tempo de calar. Embora assim eu me sinta. Agora!

14 comentários:

Anônimo disse...

Há tempo que eu não andava de bicicleta, mas , pedalar ao seu "lado", foi muito bom, diria melhor, foi ótimo.
Emocionante.
José Bino.

Bibi disse...

José Bino!
Eu não vou parar de escrever não! Avisa em casa e na vizinhança!
Hoje eu me senti vazia! E não quis pedalar!
Ai, que lindo!
Obrigada por escrever! Você não sabe o que significa para mim! Fico tentando imaginar você! Obrigada por esse fôlego!

Ivy Farias disse...

Eu acho que tem horas que mesmo que a gente queira levar a vida, ela nos leva para um lugar totalmente diferente. É que as pessoas usam o lema do Zeca para serem inconsequentes, mas tem momentos que a única coisa a fazer deixar a vida levar. Outros não tem jeito, a vida leva mesmo sem a gente querer.
Beijo grande,
Ivy

Lucas Ferraz disse...

Bi,

A vida é uma constante mudança e a grande aventura é justamente conseguirmos mudar a vida sem nos endurecer e deixando a vida nos mudar, mas sem deixar a vida nos controlar.
Complicado? Nada disso. Em bom português, isso significa "correr atrás, sem se deixar enrijecer".
Ou melhor, numa velha máxima já conhecia (e por anos proibida!): "Há de endurecer, mas sem perder a ternura".

Mudar faz parte! E a gente muda o tempo todo! Eu estava vendo o Big Brother agora. Sim, eu assisto Big Brother. E acho que só alguém que já viveu uma experiência como a nossa pode entender o sofrimento de alguém que deixa a casa.
Não pensei que a saída do Flávio fosse me doer. Eu me apego aos personagens/pessoas do BBB. Mas estava torcendo pela Priscila e mais, estava torcendo contra o Flávio.

Mesmo assim, vê-lo saindo, chorando, largando seu amor (Máx), seus companheiros de confinamento, se despedindo de cada cômodo da casa..... doeu.

Doeu fundo. Lembrou-me da gente atravessando o estacionamento. Na minha mente "por enquanto" na voz de Cássia Eller.
Com planos de voltar, mas sabendo, no fundo, que não voltaríamos.

É duro fechar aquela porta e voltar ao mundo real, para sua vida antiga que, agora, é completamente nova.

Mas a gente sobrevive, não sobrevive? Estamos aqui, firme e fortes.

Porque o segredo da vida é esse: mudar, pero sin perder la ternura jamás!

te quiero. besos.

Bibi disse...

Ivy, concordo com o que vc disse. A vida leva, mas existem os passos que a gente tem que dar mesmo. Sem presivibilidade, mas também sem incosequencia!

Luke: nossas vidas se misturam! A sensação é essa! E olha: a gente tem quase sempre uma trilha sonora! hahaha Vivemos o Show de Truman? Medo! rrsrsrs
Te amo tb loirinho!

AV disse...

Bi, seus textos são profundos porque a
alma fica inquieta. Como uma terapia... Saio diferente. Abri o baú emocional, peguei um objeto e vi que tenho que dar conta dele... Não posso mais guardar, se guardar tenho que limpá-lo antes. Definir o que fazer com ele. Você esta se posicionando, tornando-se MULHER. Ser mulher pra mim é se posicionar.
Quanta transformação! Em você, em mim, em tantos outros.
Deus é VERBO. Ele sempre te dará as PALAVRAS.
Quando você diz retrospectiva, não retroceder... É isso! Passo a passo. Poderemos dar passos pra trás, o próximo sempre será para frente... Retroceder jamais.

Amo ocê.

J25 disse...

Tomei um susto!!! achei que a Bicicleta havia quebrado, ou estava sendo momentaneamente deixada de lado...
Eu quando preciso pensar, agir, ando literalmente de bicicleta faz o celebro funcionar... fica mais facil decidir algo. Não tenho em função do trabalho feito isso ultimamente e tenho mim sentido muito mal por isso é algo que gosto e preciso.
Mas aprecio, gosto, já disse aqui que o bibi de bicicleta é meu vicio; porque aqui suas estorias, seus causos, se completam com os meus e de muitas pessoas que pedalão com você; por isso pedidos nao deixe as palavras te silenciar...

Bibi disse...

J25: eu ia mesmo escrever um post comentando a sua ausência! Faz falta, menino!
Nunca quis parar de escrever. Mas ontem eu pensei nisso, porque queria ficar em silêncio! Mas como estou, não tipifica quem eu sou. Então, momentos de silêncio passam! Queria ter uma boa história que me animasse! Não estão rolando! rs
Que bom que vc voltou! Me faz bem! Não perca esse vício! hahaha

Ana Martins disse...

Bibi,

Se sua bicicleta quebrar, ajudo a consertar. A caminhada a pé é longa e de bicicleta a vida fica mais fácil, e refresca!

Estive com problemas no velox e no pc, tudo junto e misturado. Não vivo sem isso... céus!
Nem sem a bicicleta!
Beijo carinhoso!
Ana

Bibi disse...

Eu também não sei ficar desconectada mais! Juro, sinto até que está faltando alguma coisa em mim! rsrss
Seu post, Ana, é um doce carinho!
Obrigada!

Fernando Rocha disse...

Programo minamente minhas ações, mas aprendi que ás vezes chego à lugares que não almejava estar, não desista de escrever, isso pode ser algo ímplicito ao seu ser, ouseja quase como um traço no seu DNA.

Bibi disse...

Fernando: Eu não programo minamente minhas ações, mas gosto de saber o que estou fazendo e o que pretendo com aquilo... Acho que escrever é algo ímplicito ao seu ser sim, mas... Tem horas que é um ato de extrema solidão! Minhas barreiras não me impedem de ir à frente!
Obrigada pela força!

Saulo disse...

Não sei se são as pedaladas ou o passeio, mas pelo esforço ou pela viagem você se exercitou! Mesmo! Está mais robusta, forte! Sinto pelas suas palavras, sinto pelo seu olhar! Você precisava deste lugarsinho... deste espaço para se experimentar. Lembre-se que cada um de nós, seus fiéis leitores, se exercita e cresce com você a cada pedalada, a cada passeio!
Ei... psiu... Tá cansada? Sobe na garupa... que eu quebro seu galho, tá?!
Te amo

Bibi disse...

Saulo: a nossa viagem com vc no guidon e eu na garupa seria hilária! Prefiro vc ao volante, embora vira e mexe eu feche os olhos! Uia!