13.4.09

Último Beijo

Meu Pai gosta muito de cantar músicas antigas. As do tempo em que eu não era nascida e que homens falavam de sentimentos sem parecerem piegas, frágeis demais ou inadequados. Há dias em que ele escolhe uma e a plenos pulmões solta o brado de um bardo apaixonado.

Confesso: muitas vezes eu não tenho a menor paciência para ficar ouvindo. Primeiro, porque a repetição é constante [e em tom maior]. Depois, porque é aquele tipo de música que não me agrada mesmo!

No entanto, existe uma que mexe comigo de verdade. Hoje ele cantou essa música, enquanto eu fazia os meus trabalhos no computador. Ineditamente, a serenata não me tirou a atenção, porque a música fala mesmo ao meu coração. Que música é essa? Último Beijo, de Jorge Faraj e Roberto Martins.

Na carta nem o nome ela escreveu
Adeus, me torturando o meu desejo
Igual aos falsos beijos que me deu
A mancha de carmim de mais um beijo

Na carta que eu não pude devolver
Eu vejo a flor daquela boca
Sorrindo sempre desta angustia louca
Sorrindo sempre deste meu sofrer

Leio e releio-a a chorar
Adeus, adeus e sem pensar
Beijo e torno a beijar
A flor do seu último beijo

Sei que ela nunca me quis
A verdade esta carta me diz
Mas beijando na carta o seu beijo
Eu sou menos infeliz

Uma carta de despedida. Sem direito à réplica, só a lágrimas. Um beijo de batom vermelho em forma de sorriso e flor assina o término de uma história. E a parte que mais me toca é a que diz: "Mas beijando na carta o seu beijo, eu sou menos infeliz".

Quantas lembranças a gente carrega no coração? Quantas lágrimas já vieram limpar esse gosto amargo que fica no final de cada história sem o desfecho que a gente espera? Elas foram suficientes para você ou apenas as toleradas pelas pessoas que te cercam? É preciso se conhecer e prosseguir em se conhecer, porque, do contrário, permaneceremos beijando beijos de cartas sem assinatura.

Tenho lido muito sobre pessoas que vivem apenas o hoje e não são nem um pouco nostálgicas. Gosto tanto de voltar ao passado! Por isso, as coisas de lá precisam estar bem resolvidas, para que, ao voltar, eu não permaneça presa a uma triste memória, mas a uma doce lembrança.

Gosto de lembrar de tudo o que fui e sou. E disso tento fazer projeções para o futuro, sem deixar de viver intensamente o presente. Sempre escuto que a parte do desenrolar do processo também deve ser intensamente saboreada, tanto quanto o sonho inicial [o start de tudo] e o resultado final obtido.

Sei. Não é moleza! Quem diz que não se arrepende de nada do que fez é um grande mentiroso ou muito arrogante. Tudo contribui para formar aquilo que somos HOJE. Fato. Porém, existem certas atitudes que saem totalmente do esquema e que se você pudesse faria diferente. Para isso existe o tal do "me desculpa!?". Só que para essas duas palavrinhas funcionarem dignamente é necessário que você não seja arrogante com o outro e/ou mentiroso com você mesmo.

Se não gostasse do passado, não contaria tantas histórias. Se não esperasse pelo futuro com certa ansiedade, não tentaria ser um pouco melhor que fui. Se não vivesse o presente com avidez e naturalidade, as histórias do passado não teriam o olhar sensível e o decantar necessários para se tornarem lições. Somos todos assim: começo, meio e fim.

5 comentários:

Daniele Lomba disse...

Ainda bem que a gente só conhece o começo, espero estar longe do meio, e bem mais longe do fim...como diria meu antigo prof de literatura: - Daniele, vc quer mesmo é ser imortal! Bj, Dani Lomba

Bibi disse...

Dani: temos várias pequenas histórias com começo, meio e fim. Não precisa ser metáfora para a vida toda! hahaha Tem gente que simplesmente não finalisa histórias e passa um tempo enorme sofrendo sem o ponto final!

Ivy Farias disse...

Eu me acho tão louca que não sei dizer se tenho fim...

Saulo disse...

Eu não sei viver o hoje. Isto é ruim na maioria das vezes! Ou vivo o ontem em pura (e sofrida) nostalgia, ou vivo o amanhã numa ansiedade desmedida. Tenho consciência dos extremos, mas não sou inteligente o suficiente para combatê-los...

Bibi disse...

Ivy: eu não te acho louca. Eu acho que vc tem neurônios inteligentes e saltitantes!

Saulo: se saber é um começo...