1.7.09

Querida Andy,

Querida Andy,
A vida é um grande caderno sem pauta, no qual vamos colando recortes que colecionamos ao longo do tempo. Podem ser fotografias, papéis de bala, ingressos de shows, cinema, teatro, um pedaço de poesia, um telefone que não existe mais. Construímos um caderno de emoções muito particular. Único. Que não se pode medir nem intensidade e nem alcance. Nesse caderno cunhamos fatos com a nossa própria letra, borramos linhas com as nossas lágrimas, deixamos manchas de batom que, em vão, podemos vir tentar apagar. Não se apaga. Mas tudo pode se transformar basta querer. A ordem do caderno é comandada pelo nosso desejo. É você quem escolhe o que entra e é você quem escolhe a representatividade que cada item vai ter. Trabalhe sempre na memória aquilo que te dá esperança. Nem sempre a vida é má. Maus somos nós, tantas vezes, com os nossos olhos; janelas da alma.

Andy, a vida não é feita apenas de coleções aprazíveis. Nesse caderno há dor e há saudade nas mesmas proporções que amor e bondade. Porque é disso que somos feitos. Todos nós. Perdas e ganhos. Processo e retrocesso. As cicatrizes são marcas de batalhas e todos nós as temos. De um jeito ou de outro. Não há proteção contra a vida. Não viver ou evitar as escolhas é escolher sofrer tudo lá no final. Existe um ponto de não retorno. Um eterno. Outros escamoteados em pequenas circunstâncias. Percorrer o caminho de sua guerra particular é chamar à responsabilidade da existência: como o rio que corre para o mar; como a noite que chama o dia; como o vento que nos revela que há coisas as quais não vemos, mas sentimos e muitas vezes é uma surpresa extremamente aprazível. Ou não, é um furacão que te arrasta contra o seu desejo.

Sabe, Andy, quando eu perguntei como você estava se sentindo hoje, eu já imaginava a resposta. Eu sei como é. Mas fazer a pergunta é parte de um processo chamado “preocupação de quem ama”. Estou acompanhando de perto essa sua maratona; estou bem ao seu lado, ao alcance da mão. Sou quase como uma técnica – só que sei que nada sei para te dizer. O que fazer? Somos uma dupla e estamos em igualdade de condições. Side by side. Só sairei do seu lado por motivos que vão contra a minha escolha. E uma única vez, quando estarei lá na linha de chegada, te esperando, de braços abertos para te receber após essa sua vitória pessoal. Porque há fim para toda dor.

Eu não tenho a menor dúvida do quanto você deve estar se sentindo sozinha nesse escuro. E do quanto você luta para permanecer assim, por medo de que alguém venha acender a luz e te mostre que a realidade é outra, não mais a que você conhece. Mas eu te falo: a realidade sempre vai ser outra, porque outros somos nós em todo esse processo histórico de mudança que nos alcança inexoravelmente. É como a onda do mar que beija os pés de quem está na beira da areia. E, olha!? Nem sempre o diferente é ruim. Quase sempre é uma questão de encaixe.

Por mais que você não acredite, eu creio e confio em Deus. Tenho pedido a Ele para te guardar e te proteger. Sinceramente acho que todo mundo tem seus dias determinados aqui na Terra - não escritos, porque ai é parte do nosso livre arbítrio, mas determinados. Sentir medo ou enfrentar a vida com coragem não acrescentam um dia sequer à nossa existência, só determinam a qualidade dos dias que viveremos. Viva seus dias com qualidade, porque escrever sua história é a parte que lhe cabe (assim mesmo ainda contamos com tantas surpresas e desvios que são parte do imponderável). V I V A! Porque a vida lhe foi entregue para ser desfrutada com prazer e responsabilidade. Tranqüiliza o seu coração e apenas tome os cuidados necessários.
Um beijo.
Bibi

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