2.8.10

Espero por compreensão.



Estou aqui tentando conversar com os meus botões. Que noite complicada para esse tipo de diálogo.


- Qual?


Aquele que você trava com o seu interior e elege seres inanimados para fazer a vez do ouvinte mais próximo. O ouvinte interno são botões.


- Metáfora mais batida...


Eu sei. E não ligo. A conversa também não tem nada de novidade, não existe ineditismo em muitos dos meus questionamentos internos.


- Roda gigante?


Estou mais para carrossel, se a comparação é para ser feita com alegorias infantis. Infantil é essa espécie de dor que me perturba, com efeito. O que eu escrevo tem relevância para alguém mais que a mim mesma?


- O que é um blog afinal de contas?


A vida alheia pode ser mais interessante que o passar dos nossos dias. Não acredito, no entanto, que fazer um diário de mim possa acrescentar grandes coisas à vida do outro. Só então me lembro que os semelhantes se socorrem em suas agruras. E que o fato de não ser sozinho numa questão é algo que traz bastante alento.


- Não somos únicos.


Mas somos sim, únicos nos detalhes da nossa experiência. Cada qual com seu peso e sua medida. Cada um carregando seu fardo, sua dor e seus feixes de alegria, que é combustível para dias com nuvens.


- Dias com nuvens?


Pode acreditar que não. Dias sem botões. Noites sem alento de um frescor que inebria e entorpece. Uma existência/resistência que beira à bobagem. Falta uma direção, embora eu saiba instintivamente qual o rumo certo. Não trago comigo a força das exatidões. Deixo sistematicamente pelo caminho reservas importante e tento me abastecer do sol.


- Mas em dias de nuvens?


Em noites de lua também. Noites de lua sem luar. Escrevo na necessidade real de tentar organizar o que penso e registrar o que vivo/vivemos (todos). Quando apenas sou, não me ordeno. Sentimentos embebidos no caos do existir. Ficar e partir. Ser e sentir. Deixar e sorrir.


- Escreve o hoje então!


Hoje? Hoje já passou e não houve troca. Hoje foi silêncio de revolta. Hoje a confusão dos pensamentos se avolumou por entre a intenção da ordenação proposta pelas palavras. Hoje eu nem escrevi algo que valha. Espero por compreensão. 


Dito isso: retirou-se.

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom