22.1.11

O bilhete


Logo que acordei, percebi que um bilhete me esperava na porta do quarto. Curiosa, mesmo sonolenta abri o papel endereçado a mim. Vi algumas palavras escritas à mão com letras bem caprichadas. Reconheceria essa letra em qualquer lugar, mesmo na penumbra, porque com ela estive durante toda a minha vida.



Estou em um processo de mudanças intenso e que se instala irrevogavelmente, ao que parece. Um período profundo e de decisões sérias que demandam muita coragem. Minha Mãe, meu referencial de força e determinação, quis usar das palavras e da poesia - tão caras a mim -, para me estimular positivamente.


O bilhete - cuidadosamente dobrado-, tanto quanto beleza me trazia uma lição. Era um trecho do verso de Pablo Neruda, que dizia assim:


Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho – quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos...”

Bom, era o combustível exato para os últimos acontecimentos. Vou dividir com vocês não como exposição pura e simples (porque de certa forma o é), mas seguindo a premissa do BibideBicicleta, que é mostrar como as transformações são manifestas:

Em 2010, todos os que acompanham o blog sabem, perdi meu Pai. Esse acontecimento contundente não me fez, contudo, perder o rumo. Dessa forma percebo o começo de 2011 intenso. Passei a virada em Punta Cana (República Dominicana), voltei a "dirigir" depois de 10 anos parada em função do medo, pedi demissão do emprego, porque passei para a faculdade dos meus sonhos: Formação de Escritores. Agora só falta um homem incrível na minha vida. Além, é claro, de uma lipo e da volta ao mundo em mais (bem mais) de 80 dias.

Minha Mãe escolheu a poesia exata! Vou deixar ela inteira aqui...


“Quem morre?
Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco
e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe”

6 comentários:

Saulo disse...

Quanta sensibilidade da Tia!! Esses novos tempos te farão mui bem... voc~e verá!

Bibi disse...

Também fui positivamente surpreendida :)

Bia Bug disse...

Acho que vou viver pra sempre, hehehe.

Bibi disse...

Que bom amiga!

Anônimo disse...

vou tomar emprestado sabias palavras, escrevendo a mão no meu caderno de receita, vou tomar emprestado presente tão cuidadoso e amoroso dado por uma mãe tão amiga.
Eliza

Bibi disse...

Elizaaaa! Tava sumida! Ela também tomou belas palavras emprestadas. Se guardar a beleza, qual a função dela!? Espalhe!