21.3.11

Contramão

A culpa é sua

Você foi procurar
E encontrou
E encontra sempre
O que não quer achar
O coração é enganoso
E vive se testando
Se mutilando
Se martirizando
Falhando
Chorando
Se perguntando
Tentando em vão
Encontrar
Uma peça
Uma explicação
Para o que não se explica
Contramão
Do acaso
Num caso e, no caso,
Sem solução
Ela não está pronta
A mulher da tela
A que fica na janela
Dos acontecimentos
Vendo o ir e vir
Vendo o partir
Vendo o sorrir
O que não vai chegar
Dor imensa
Dor imprensa
Dor constante
Caminhante
Vacilante
Ver quem vê passar
De longe
Distante
De fora
O mundo agora
De volta à tela
Naquela janela
Naquele mesmo lugar

***
© Carina Sirbu

Vendo Regina Navarro Lins em entrevista para a Marília Gabriela com a célebre máxima de que a culpa é um sentimento judaico-cristã e que o prazer é tido como uma coisa suja, já que o sofrimento é que nos faz crescer... Algo assim, não o pensamento dela, mas o que ela traduz, mais ou menos, como o pensamento judaico-cristão na questão do prazer.

Sempre presto atenção no que a Regina Navarro Lins tem a dizer, concordando ou não... Ela e Carmita Abdo. Relações humanas é um tema tão complexo, controvertido, arriscado, mas aboslutamente fascinante.

Conheci nesse fim de semana o americano Dr. Lew Losoncy, um psiquiatra motivacional entusiasta do potencial humano em relação à condução positiva dos sentimentos em prol de reações pro-ativas. Essa é mais ou menos a leitura particular que faço dele. A leitura íntima seria a de um maluco beleza, que encontra na simplicidade o combustível para o sorriso, elemento necessário à realização. 

Acho interessante e importante pessoas que tentam entender as outras. Somos tão múltiplos, tão intensos, tão estranhos. Já desisti de tanta coisa e estou apenas na primeira metade da vida. A inocência acabou, não em mim, mas comigo. Sigo encontrando meus sorrisos em cada esquina dos acontecimentos e juntando essas peças para ajudar na sustentação dos pilares que movem a história da vida.

Blues is coming as the sky is turning into gray...   

4 comentários:

Luke disse...

Eh isso que me mata: sempre no mesmo lugar.
Tem uma música de um filme que eu gosto muito, que diz:
"with all the strange things you've been through, it seems the strange is always you, alone again in some new wicked little town".
bjo

Saulo disse...

Estou mergulhando nesses questionamentos. Também não sei se são próprios da "crise dos 30". cada vez mais me esforço por tomar decisões mais razoáveis, nem tão recionais, mas ao menos maduras e verdadeiras dentro do meu mais autêntico querer. Afastar a culpa é o dilema. Fruto das concepções Judaico-cristãs de mundo?? Tendo a questionar concordando, como Cristão (torto) que sou. Por fim, roubo seu título afirmando que ando na contramão conscientemente. Assim como ontem, continuo andando hoje, procurando o meu rumo, cheio da arriscada auto-confiança de quem não teme ousar. Na vida, a sorte etá lançada. Quem procura... acha!

Bibi disse...

Luke e Saulo: a poesia é belo, uma forma de expressão estética também, expressiva em palavras. Mas como toda arte, é muito legal perceber seus desdobramentos, suas interpretações múltiplas e possibilidades infinitas. Gosto desse ultrapassar de barreiras proposto. Gosto que ela fale em cada um de uma forma específica.

Bibi disse...

Saulo: lindo o que vc falou. Uma reflexão muito profunda que me encanta. Juro para você que eu estava com uma frase sobre 30 anos pronta para colocar no blog, mas achei que seria demais. E vem vc falar da crise dos 30, o que prova que inspiração nunca é demais. Sintonia. Acredito na sorte lançada a na nossa necessidade de ousar, mas não creio 100% de que quem procura acha. As variáveis são tamanhas! Muito bom o que vc escreveu! Obrigada!