24.3.11

Se joga e acredita que é sucesso - FIM

(parte 1)
(parte 2)
(parte 3)




(Continuação)

Depois daquela joelhada maldita na mesinha de centro do living do hotel, eu tinha que recuperar a minha dignidade a todo custo. Revi mentalmente aquelas listinhas de coisas que a mãe da gente ensina para mil e uma situações e utilidades, que nessas horas se tornam o nosso "Manual da Sebastiana Quebra-Galho".

"Sorria sempre". Boa, ali, mesmo com dor dava para sorrir.
"Sacode o cabelo e vai". Boa também! Balançar o cabelo não envolvia nada perto da rótula.
"Capricha no decote". Nãaaaao. Essa não estava valendo para a situação.
"Dá um pivô e finge que nada aconteceu". É, meio mancando, mas era possível partir para outra. Não dava mesmo para investir no rebolado, porque meu corpo apostava no desnível. Mais para pirata da perna de pau, mas digna.

Por fim, o que me fez levantar mesmo foi o nosso bordão:
"Se joga, filha, e acredita que é sucesso". Fui!


Só quando me sentei à mesa do almoço, ironicamente de costas para o mar, é que fui fazer a contagem dos “mortos e feridos”: um joelho roxo, uma unha quebrada, um brinco faltando e o calcanhar comido pela sandália. "Mas que aventura tropical suburbana, essa, minha gente!", pensei com os meus botões. Mas sabe de uma coisa? A disposição interna conta muito nessa hora.

Aquela era a primeira vez que me sentava para conversar com os meus novos e instantâneos colegas de trabalho, então precisava fazer com que o meu tombo deixasse de ser o centro das atenções e a gente passasse a falar de amenidades. Ali eu saberia com quem dividiria meu quarto. Afinal, estava deixando a “cama da mão preta na fronha”, para coexistir durante o fim de semana com uma completa estranha. Sabe a lenda urbana da loira do banheiro ou da pessoa que acorda na banheira cheia de gelo, mas faltando o rim? Hummmmmmmmmm

Para a minha sorte ninguém ali tinha os cabelos loiros. Mas ao entrar no quarto, a primeira coisa que minha colega de quarto disse foi: “olha o tamanho da banheira!”. Oi? (hahahaha) Batem na porta. A segunda jornalista foi praticamente para o paredão: sua colega a “eliminou” do quarto. Tristinha, ela pedia abrigo. As nossas novas acomodações eram um verdadeiro luxo. Duas camas de casal e mais espaço para a caminha dela. Varanda, TV, frigobar com frigo e bar funcionando, lençóis macios, travesseiro fofinho. E agora três mulheres e um banheiro. Podia ser tensa a parada, mas nem foi. Todas sem ronco, sem chulé, manias estranhas não-reveladas (ninguém colecionava rim), nada de falas à noite e os puns noturnos foram suspensos pelo bem geral. Agora a diversão estava pronta para começar!

E não é que assim foi!? Adivinhem só de quem era aquele congresso? CABELEREIROS! Eram 400 pessoas desse segmento reunidas sob um mesmo teto. Entre tesouras platinadas, pochetes cheias de traquitanas, enormes malas metálicas com divisórias e fundos de todos os tipos e spray, spray, spray para dar um ar noir ao evento. Era quase um fog londrino em certos momentos. Muitas palmas, muitos gritos, muita animação! Palestras motivacionais, lançamentos de novos produtos, convidados estrangeiros, tendências, modelos desfilando os cabelos que estarão dominando as cabeças em 2011. E nós lá. Todo mundo com a camisa vermelha do patrocinador. E aquela fumaça toa me fez pensar: ou chegamos ao inferno ou é a convenção do Salgueiro (escola de samba vermelha e branca carioca). Mas não era nada disso amores, era o povo do salão colocando as tesourinhas de fora!

Aprendi muito. Ganhei vários produtinhos que vou testando ao longo do ano. Falei mais inglês durante o fim de semana que todo o ano passado. Fiz novos amigos. Voltei com uma tatuagem (roxa) no joelho, com a unha quebrada, mas com meus dois rins no lugar (ufa!). Alegria, alegria. Esperando pelas próximas aventuras.

F I M


Up date: Teve uma reunião muito sinistra. Para ensinar novos cortes, eles colocam várias cabeças de bonecas com um cabelo loiro enorme em cima de um mastro retrátil sobre cada mesa. Cada cabeleireiro com a sua para aprender a fazer o tal corte. Você entra na sala e se depara com aquele mar de cabeças sem corpo. SINISTRO. Ainda bem que não era mesmo a convenção do inferno. hehehe

2 comentários:

Sintia Aline disse...

Descobri seu blog por acaso, estou adorando. Descontraida, inteligente e se joga porque acredita que é sucesso, parabens.

Bibi disse...

Sintia Aline: que delicinha de recado! É por acaso que a gente se esbarra nas esquinas virtuais! Que bom que vc chegou até aqui, baby! Vamos pedalar juntas!
Bjs