20.3.12

Assim é se lhe parece





Assim é se lhe parece... 



Já ouviram essa frase? Achava estranha. Mas um dia encontrei um sentido que me bastava. E se esse sentido bastou para mim, a própria frase frase encontrou em seu meio, um fim. Mas o contrário? Foi mais ou menos esse pensar que me impeliu a escrever hoje. Li em um blog supercriativo que todo jornalista em começo de carreira acalenta - mesmo que secretamente - o sonho de mudar o mundo. Até se dar conta de que o material que tem em mãos é a realidade nua e crua e ela, quase nunca, é tão boa quanto nos sonhos ou nos ideais...


Tive esse mesmo desejo ao longo da minha formação e um pouco depois. Mudar o mundo é algo muito grande, eloquente demais até para os padrões dos meus devaneios. Mas sempre quis fazer a diferença. E continuo com essa premissa como uma das bases do meu existir. A diferença é que meus pés estão bem mais plantados na realidade, embora a cabeça viaje pelas nuvens a miúde. 


E nessa viagem, senti o forte desejo de fazer parte da ONU. Queria trabalhar na sede da entidade, envolvida com alguma questão humanitária. Fiquei impactada com o que aconteceu com o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, que morreu em um atentado em Bagdá durante uma missão. Como o ato de levar a paz e a justiça pode redundar em morte (trágica)? Só que a gente esquece que essa é uma equação resolvida na base humana, cheia de falhas, pontos de vistas, dores e ganâncias de todos os tipos...


A vida nunca me levou para caminhos da ONU - a não ser naquela visita básica aos prédios quando estive em NY. Mas essa mesma vida não me deixou assim tão longe das ações humanitárias. A diferença - e a questão em jogo - é que eu estava dando pouco valor a pequenos atos. Até algumas semanas atrás... Minha Mãe, aos 75 anos, deixou o conforto do seu lar para ir fazer uma visita a uma cidade bem pobre no Norte do Brasil chamada Humaitá. "Não tem sistemas de ônibus, hotel e nem banca de jornal, filha!", ela me disse. Levou comida, material de higiene pessoal e boas palavras pra índios destituídos da terra, e também gente sem chão, sem voz e sem vez.


E dentre todas essas pessoas já necessitadas de tudo, minha Mãe deu seu toque pessoal. Resolveu brincar e dar atenção a uma criança "especial". Em lugares com pouca instrução, criança não tem muita vez e acaba crescendo por si só e ao sabor dos acontecimentos sobrevive. Criança com deficiência tem pouca atenção até de seus pares. Mas, pelo menos uma vez na vida dela, uma senhorinha de cabelos brancos, sorriso abundante e braços fortes para um abraço, resolveu se doar. E tanto bem ou mais quanto fez à criança, também o fez a seus pai.


No dia seguinte, aquela gente pobre, que ganha o pão de cada dia com o suor do rosto, literalmente, mostrou sua gratidão pelo pequeno e simples gesto. Antes da minha Mãe deixar a cidade, a mãe da criança "especial" deu um presente: embrulhado com esmero estava um porta-canetas de artesanato e uma bonequinha feita a mão que lembrava muito a minha Mãe. Esses não são verdadeiros troféus de vida?


E se assim é se lhe parece, para mim, a sede da ONU tem uma filial no quarto ao lado do meu. Sempre esteve ali, eu é que não enxergava com o coração.

4 comentários:

Bia Bug disse...

Lindo!

Bibi disse...

:)
Bia Bug, U know her...

fer disse...

Bibi,
Sua mãe é uma fofa!!! E que lição ela nos deu!! E que força,viu? Com a idade dela conseguiu nos dar um belo exemplo
beijo

Bibi disse...

Minha Mãe é uma figura singular. Todo mundo acha. Com seus prós e seus contras, ela vai fazendo a parte dela e vai seguindo com um fôlego de dar inveja. Se antes era uma coisa de muito amor, hoje é muito mais amor e admiração