Como nasce o amor?

Como nasce o amor? Muito se falou e teorizou sobre esse sentimento. E quanto mais o dissecam, mas ele mostra novas maneiras e possibilidades. Uma gama sem fim de ensejos, variações, disposições e características. Ama-se de muitas maneiras, de várias formas e com intensidades que não se tem ainda ideia. Ama-se. Ama-se o amor amado.


Não conheço a Laura ainda. Mas tenho por ela um amor fecundado, formado, gerado, nascido. Acho fácil amar as pessoas, embora amar ao próximo como a mim mesma seja o maior desafio proposto por Deus a nós. Requer tantas habilidades e muitas, inatas. Mas amo a Laura quando ela era ainda uma ideia de ser humano. Quando a mãe dela disse: "a Laura vem ai", ela já morava aqui, na cobertura do meu coração.


Sei que a Dona  Gostosa vai crescer e tudo que acumulei aqui vai mudar. O tempo e suas formas são inexoráveis. Sei que ela vai me decepcionar e é por isso mesmo que eu espero, porque assim ela dará sinais de autenticidade e decisão. Por enquanto, oferto meu amor unilateral. Laura ainda não me ama. Então é por mim amada duas vezes. Ela é amada porque assim decido no coração. E o amor também tem essa face. Você decide amar alguém, inclusive apesar dela mesma.


Todas as noites eu falo com a mãe dela. E me inspiro. Não a ser mãe, mas a ter coragem, a ser desprendida e desmedida, a conseguir imaginar meu coração batendo fora do peito. Eu já sou um pouco assim, mesmo não sendo mãe. Sou amor. E sinto falta dele nos dias em que não sou amor. Eles existem e me tragam para um fundo infinito.


Quando isso acontece, penso nesses olhinhos arregalados. O mundo tem seu lado bonito sim . Ainda é capaz de provocar curiosidade em quem acaba de nele chegar. E por que também não em nós, que aqui já estamos? Acho que a nossa disposição tem que ser essa: infantil, pura, despida de conceitos e preconceitos, de dores e rancores. Olhos de pura novidade e espírito livre, calmo e complacente.