18.9.12

News - Margareth Boury



#No primeiro semestre fiz uma matéria MUITO bacana com a Margareth Boury para a Agência Estado. Já havia contado até uma ou duas histórias sobre ela aqui no BibideBicicleta. Nos cruzamos mais uma vez. Para quem gosta de ler uma entrevista (é antiga, mas está valendo), lá vai...

“Não acredito no Ibope, acho manipulado”, diz autora de “Rebelde”

por Bia Amorim

A habilidade para escrever uma obra de sucesso na tevê é praticamente uma jornada de herói. Margareth Boury sabe bem os desafios do caminho que trilha há 30 anos. Desde março de 2011, ela alcançou o olimpo dos autores ao colocar e sustentar no ar a novela “Rebelde”, da Record, que trilha agora a sua segunda temporada. E a trama, que arrasta uma legião de fãs a cada show que seus protagonistas-cantores apresentam em palcos pelo país, ainda não chegou ao fim.

Filha do diretor Reynaldo Boury, Margareth começou a carreira artística aos 11 anos, levada por ele para atuar na novela “Redenção”, da extinta TV Excelsior. Também foi o pai que despertou nela a coragem para escrever profissionalmente, anos mais tarde. “Já na Globo, ele dirigia um programa chamado ‘Caso Verdade’. Pediu para que eu escrevesse um episódio, escondeu meu nome e mostrou à direção da emissora. O texto foi aprovado e só então ele disse que era coisa minha. Outras empreitadas vieram até que abandonei a carreira de atriz e abracei a de roteirista”, conta Margareth, que, como colaboradora e co-autora assinou trabalhos importantes como as novelas “Irmãos Coragem” (remake de 1995), “Uga Uga” (2001), “Kubanacan” (2004), a minissérie “O Quinto dos Infernos” (2002), entre outros. Ao ser convidada pela Record para escrever “Alta Estação”, em 2006, ela deu início a uma carreira como autora âncora nas novelas brasileiras. Anos antes, já havia assinado duas produções, mas para a Televisão Pública de Angola.

Margareth tem 55 anos, nasceu na cidade de São Paulo e graduou-se em Jornalismo, profissão que nunca exerceu. Solteira, ela é irmã do diretor Alexandre Boury e mãe do ator Guilherme Boury e da psicóloga Carolina Galvão, frutos do casamento com Heraldo Galvão, irmão do cantor Fábio Jr.

Carolina segue os passos da mãe e estreou oficialmente como roteirista, assinando como uma das colaboradoras da segunda temporada de “Rebelde”. “Somos tão ligados à arte que se a família quisesse poderia assinar uma produção independente”, diverte- se a autora.

Como começou a sua atração por essa fábrica de sonhos chamada televisão?

MARGARETH - Meu pai é diretor e a minha mãe, na época, fazia produção. Eu trocava qualquer parque de diversões para assistir às gravações de novela. Meu pai dirigia a primeira versão de “Irmãos Coragem” quando eu estreei. Achava que era uma grande atriz, mas não era (risos). Meu irmão fez o mesmo caminho, meu filho, minha filha, meus sobrinhos... Não se trata somente de DNA, mas família de televisão só fala sobre isso. Olha a Glorinha (Glória Pires), que depois da Cleo (Pires), já vê outras duas filhas na tevê (Ana e Antonia fizeram uma participação em “As Brasileiras”). E há outros casos semelhantes.

Depois de atuar, você começou a escrever. Como foi esse processo?

MARGARETH - Tenho 30 anos escrevendo. É muito divertido, mas também cansativo. Por exemplo, em 2011, quando foi a implantação de “Rebelde”, não viajei, não fiz nada, vivi para novela. Mas não deixa de ser um prazer, que ainda guarda surpresas. O primeiro show dos Rebeldes que eu vi em Porto Alegre foi muito impressionante e ao mesmo tempo chocante, porque estive frente a frente com público o da novela. São crianças gritando e chorando, identificadas com aquelas seis pessoas que estão no palco. Voltei emocionada e com sentido de responsabilidade muito aguçado.

Quer dizer que você foi exposta a uma realidade que desconhecia?

MARGARETH - A gente não tem noção! A maioria dos autores vive numa redoma. Eu não sou assim, convivo com os atores, trago para a minha casa, pergunto o que estão pensando. Mas essa obra me deu a realidade do público. “Rebelde” teve uma coisa que nunca tinha visto na Record: fãs na porta da emissora gritando. Inclusive quando eu, autora, passo por eles.  

Como é seu processo criativo?

MARGARETH - Eu evito atender ao pedido dos fãs pelas redes sociais. Geralmente querem coisas que na idade deles não é conveniente. E por ter que respeitar uma classificação etária, não é sobre tudo que eu posso tratar no roteiro. Já li todos os tipos de livros infanto-juvenis, tenho convivência com os jovens da novela, uso suas gírias. Trago parte do elenco aqui para casa, porque autor não vive, não é? (risos). A minha diversão é jantar fora, reunir um grupo para jogar em casa nos finais de semana, ir ao cinema e assistir aos seriados. Vejo todos, sou fã, adoro.

Quando você começou a escrever achava que conseguiria viver de novela?

MARGARETH - No começo, não! Comecei a escrever quando engravidei do Guilherme e eles pagavam melhor para o autor, o triplo do quanto eu ganhava como atriz. Foi na base da lei da sobrevivência. Comecei de forma descompromissada e só depois virou profissão. Não tenho apego à novela, não a trato como a um filho. É um produto, que não é só feito por mim, a equipe tem que estar em harmonia. E o fato de o produto precisar acontecer é a parte de maior pressão. Fiquei ansiosa antes de “Rebelde” começar. Era um sucesso no México e aqui já tinha gente falando mal antes mesmo de ir para o ar!

O Ibope é uma constante que te preocupa?

MARGARETH - Não, nem tenho medidor em casa. Recebo os números todos os dias, mas não é isso que pauta a minha criatividade. Como vou me guiar por um índice que só mede São Paulo? Eu não acredito no Ibope, acho manipulado. É muito restritivo julgar o gosto médio do brasileiro tomando por base apenas São Paulo. Por que só lá? Porque é de lá que vem merchandising e patrocínio? Como autora, não tenho que me preocupar apenas com o que uma região quer ver, eu escrevo para a garotada do Brasil. Não tenho bairrismo. Vejo o êxito da novela quando vou a Belém, por exemplo, e vejo a lotação esgotada e metade desse número de pessoas do lado de fora. E é quase sempre assim nos shows.

Como é ter a filha como colaboradora em um trabalho?

MARGARETH - Acho ótimo acompanhar o primeiro trabalho profissional dela na área. Carolina mora em São Paulo e escreve de lá. Ela fez a primeira temporada como teste, eu que pagava o salário e seu nome não aparecia nos créditos. Na segunda temporada, a própria emissora propôs o contrato. As pessoas falam que para os filhos de autor seria mais fácil. Não acho. Existe uma porta, sim, mas ninguém permanece numa posição se não provar que tem valor. Somos completamente diferentes. Guilherme é mais parecido comigo.

Como você está acompanhando a carreira de Guilherme como ator?

MARGARETH - Com carinho e com afeto, mas à distância. Claro que conversamos a respeito de sua carreira, mas ele é um homem de 29 anos, sabe o que quer. Quando ele terminou de fazer “Poder Paralelo”, na Record, e foi convidado pelo Aguinaldo Silva para um papel em “Fina Estampa”, na Globo, eu falei para ele ir. Claro! Era um novo desafio, mas era fundamental sair bem da Record, não fechar portas.

Você era colaboradora na Globo e foi chamada para fazer a sua primeira novela na Record, “Alta Estação”, que não deu muito certo. Não ter êxito te assustou?

MARGARETH - Sabe que não? Eu vinha de colaborar com o Carlos Lombardi, que é um trabalho árduo, ele pensa a mil por hora. Quando fui chamada para fazer “Alta Estação”, era um desafio que queria na minha carreira. A primeira novela é como primeiro filho: não vem com manual. Houve uma série de erros, desde escalação de elenco até o horário que mudou muito e não fidelizou o público. Mas até hoje tem gente que me fala que gostou da trama. Era o primeiro trabalho de muita gente. Não mexeu comigo, não me deixou acabada, pelo contrário, me ensinou.

Você escreveu duas novelas para Angola. Escrever para outro público é diferente?

MARGARETH - Não achei. Escrevi em português junto com dois colaboradores locais e os atores iam colocando seu jeito de falar. No Brasil a pressão é maior, claro. As novelas da Globo são tão vistas lá fora que já se criou uma identidade. Faz tempo que elas são produtos internacionais. É um “to be continued” eterno!

Como atriz, seu personagem de maior sucesso foi na novela “Gabriela”. Você está curiosa com o remake da Globo?

MARGARETH - Não sei nem se a Mariquinha, meu personagem na época, vai estar na nova versão. Morro de vergonha! Acho maravilhoso fazerem “Gabriela” outra vez, mas, ao mesmo tempo, morro de pena. Não pelo meu personagem, lógico, mas por causa de gente como Sônia Braga, Armando Bogus, José Wilker e Elizabeth Savalla que foram brilhantes em seus papeis. Tenho medo de remake!

Mas “Rebelde” não é um remake?

MARGARETH - É (risos). Mas não segue a mesma linha da novela que passou originalmente no México, só a temática. Pude adaptar à realidade brasileira e criar em cima sem a interferência da Televisa, que detém os direitos. Sabe o que é pior? É o segundo na minha carreira, porque fiz também a nova versão de “Irmãos Coragem” com Marcílio Moraes e supervisão do Dias Gomes. Tenho para mim que remake de Janete Clair não dá certo. Ela tinha uma coisa que era dela, só dela.

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