2.11.16

As Meninas do Quarto 28

# Das Coisas que Aprendi nos Livros

Outro dia vi no Fantástico uma reportagem LINDA sobre o impacto do LIVRO na vida das pessoas. Alguns volumes foram deixados em lugares públicos estratégicos com dedicatórias incentivando à leitura por aqueles que encontraram o presente. Foi incrível ver como uma história pode impactar positivamente a vida das pessoas. Amigos meus, como o jornalista Sidney Rezende e a blogueira Marina W, já tinham esse hábito e o incentivavam. Recentemente descobri que outro amigo também deixava livros com o endereço do blog dele como uma ferramenta de duas boas propagandas: leia livros e acesse o blog.

Outra experiência desse tipo que me chamou a atenção foi a história contada em "O Ano da Leitura Mágica". Após uma perda brutal, a autora se reencontra depois de uma jornada de um livro por dia durante um ano. E para cada tomo lido, uma sinopse/resenha compartilhada na internet. Quem nunca se encontrou em meio a uma história?

Já deixei livros para que outras pessoas encontrassem. Já fiz da minha estante uma biblioteca viva e aberta para os vistantes que desejassem ler. Já doei livros para instituições filantrópicas de todos os tipos. Já vendi um bom material para um sebo. Já perdi o timming para me desfazer de livros antigos, do tipo enciclopédia. Hoje funciono de uma maneira um pouco mais "egoísta" e aderi à leitura digital. Difícil emprestar para alguém, embora já o tenha feio. As pessoas têm um pouco mais de rejeição ao livro digital - por N motivos, que não cabem serem discutidos aqui (Não as culpo. Aprendi a gostar e hoje não vejo grande diferença). Mais complicado ainda é guardar tudo o que leio no Tablet. Não tem espaço.

Como não posso mais deixar livros pelo caminho (digital) e também não tenho a expertise necessária para ler um por dia - acho que nem por semana... pensei em como poderia deixar uma contribuição, já que ler é uma paixão, inspirada nessas duas iniciativas? Joga no blog! Faz tempo que não atualizo o meu espaço e vez ou outras as pessoas ainda me perguntam o que estou lendo...

A leitura é algo MUITO pessoal. Nem sei se as minhas palavras inclinariam as pessoas à leitura. Os temas e/ou o tipo de escrita preferidos é algo do universo de cada um. Sou do tipo de leitora que se tem um livro em mãos, vai até o fim. Seja qual for. Mas boas experiências sempre me deram um gás a mais para ler uma história. E é isso o que vou tentar por aqui na série "DAS COISAS QUE APRENDI NOS LIVROS".

Fica combinado assim: a cada livro devorado, um textinho contado as impressões ou uma frase que tenha me arrebatado ou uma curiosidade ou um história relacionada com a minha própria vida ou qualquer possibilidade que nos leve para dentro da história, além da capa.

Vem comigo?


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Em As Meninas do Quarto 28, Hannelore Brenner reúne relatos de Helga, Flaka, Zajicek, Marta, Judith, Eva e Handa, sobreviventes do Quarto 28 do Abrigo para Meninas do gueto de Theresienstadt. Durante a perseguição aos judeus, diversos prisioneiros passaram pelo pelo gueto - transformado em uma cidade de faz-de-conta para desviar a atenção da imprensa e da Cruz Vermelha Internacional -, antes de serem encaminhadas para os campos de concentração. Ali, naquele quarto, aproximadamente 60 crianças moraram, das quais somente 15 sobreviveram. 

O livro, que traz histórias mescladas com fatos históricos e anotações do diário de Helga Pollak e seu pai Otto Pollack, desenhos infantis feitos durante aulas de desenho secretas e poesias escritas em álbuns de recordações, apresenta uma história feita de tristeza, amizade, compaixão e esperança. É de uma força arrebatadora. 

A história do Holocausto sempre me chamou atenção. Em 2002 visitei o Museu do Holocausto em Washington DC e foi daquelas experiências que te transformam para sempre. Foi ainda mais impactante que visitar os Campos de Concentração in loco. Talvez por ter tido aquele primeiro e gigante impacto de como o ser humano pode ser cruel e sua crueldade socialmente aceita. A tragédia tem que ser lembrada SIM, para que ela NUNCA mais aconteça. 

Contudo, o livro me despertou para uma questão que eu ainda não havia refletido direito sobre: e as crianças? Documentários e filmes como "O Menino do Pijama Listrado" apenas pincelavam sobre o assunto. Na minha ignorância acreditei que elas tinham sido todas imediatamente dizimadas - sobrando apenas as que conseguiram se esconder... Talvez o sucesso de "O Diário de Anne Frank" tenha me levado a esse tipo de conclusão. Mas As Meninas do Quarto 28 me levaram para um novo nível de todo esse horror perpetrado durante a Segunda Guerra. Curioso é que a história me fala muito mais de esperança, resiliência, superação e amizade, que sobre a malignidade do destino imposto. 

***

A leitura engrenou do meio em diante. Demorei para terminar, mas no final estava esticando os momentos de leitura para conhecer logo a história. Aprendi sobre as crianças no gueto e descobri um MONTE de outros campos de concentração aos quais eu nunca sequer tinha ouvido falar.        

Livros devorados entre setembro e outubro/2016

Um post daquela série - o que eu li recentemente - e algumas observações bem particulares sobre a minha experiência com cada livro.




Brilhante - Muito mais que a história inacreditável de Jacob Barnett - que foi diagnosticado como autista, mas tem QI mais elevado que Einstein, uma prodigiosa memória fotográfica e foi capaz de aprender cálculo matemático sozinho em duas semanas - essa é a história de um mãe que não desiste do seu filho. Kristine rompe com especialistas e desafia até ao próprio marido para conseguir fazer com que seu filho se desenvolva. Foi assim que ela não deixou uma mente notável se perder em si mesma ou para o sistema. Quando foi diagnosticado, aos dois anos, a previsão mais otimista era a de que Jake conseguiria amarrar seus próprios sapatos somente aos dezesseis. Contudo, com a ajuda inestimável e a força inesgotável dessa mãe, aos nove anos ele começou a desenvolver uma teoria original em astrofísica - que, para os acadêmicos da área, um dia pode levá-lo Nobel - e aos doze tornou-se pesquisador remunerado em física quântica na universidade. O mais bonito dessa história real é que todo o processo e o aprendizado na área não ficou restrito a Jake. Ele foi a inspiração para que outras crianças também pudessem se desenvolver de maneira plena, saudável e divertida. 



Corta Pra Mim - O jeitão descontraído e cheio de marra do jornalista Marcelo Rezende foi transposto com perfeição para as páginas desse livro. São as histórias e bastidores de grandes reportagens feitas por ele em seus 40 anos de jornalismo. Vibrei ao imaginar os caminhos da reportagem. Eu não teria a estrutura, a frieza e a estratégia necessária para desenrolar os casos narrados no livro. São momentos que acompanhamos o resultado final na TV. Só senti falta - e muita - das histórias que ele acaba deixando nas entrelinhas de alguns - muitos - capítulos.


   

Portas Abertas - Sabe aquele tipo de aventura que você sempre sonhou em fazer, mas nunca teve coragem? Pois é, acho que até hoje eu não teria. Aos 26 anos, Aline Campbell comprou apenas a passagem de ida e de volta da Europa e rumou para o Velho Mundo sem um centavo no bolso. Não levou nem cartão de crédito do tipo SOS. Viajou no ano de 2013 levando a cultura do desapego ao grau máximo e a vontade de ver lugares e conhecer pessoas praticamente ao sabor do acaso. Digo praticamente, porque ela combinou previamente de desabar em alguns sofás amigos por uma ou duas noites, na casa de quem um dia ela mesma já havia hospedado no Brasil ou conheceu através do couchsurfing - "rede de sofás amigos pelo mundo". O saldo foram 30 cidades entre os 14 países visitados nos 92 dias na Europa. Tudo contando apenas com a bondade das pessoas. O registro das aventuras, claro, virou esse livro. Achei de uma coragem imensa, superação constante (fome, frio, perigos), um pouco de folga e cara de pau para dar liga à mistura e um resultado muito bacana.


Caminho - Esse livro foi superfalado na época de seu lançamento. Quando passei pela capa na lista de obras que eu poderia ler, dei a chance. Foram mais de 20 anos para eu conhecer o livro que deu uma chance da Adriane Galisteu ser ouvida de alguma maneira na época da morte prematura, inesperada e chocante do Senna. Certamente foi uma obra feita às pressas, mas que procurou conservar um jeitinho da Galisteu dos 20 anos da época. Percebo bem quando são frases dela ou do autor a quem ela deu o depoimento. Certamente está bem longe da Adriane de hoje, descolada, vivida, reinventada. Já a entrevistei algumas vezes e até hoje vejo a gratidão que ela tem pela Caras - que editou o livro. Gratidão parece ter se tornado algo muito efêmero, de uma raridade nos dias de hoje, que achei justo falar disso por aqui. Acho que agora mais distantes daquela história triste e mais cientes da realidade que se seguiu e segue, a leitura ganha outro contorno. 

      
Todo Dia Tem - O fato de falar sobre o Canadá, o último país que visitei, me despertou interesse. Mas é claro que a primeira coisa que me ganhou foi o título. Se deu M* com alguém, você quer saber o que foi e como você faria para evitar. Pior que me coloquei no lugar do autor em várias situações e mesmo que as histórias contadas por ele sejam as mais malucas possíveis, eu também já tive a minha cota de eventos surreais. Quem nunca? Demorei um pouco para terminar de ler, porque embora tenham histórias muito leves, a narrativa é bem repetitiva e muitas vezes você já sabe o resultado final e ele ainda está no meio de uma longa explicação. Mas é uma boa pedida para aqueles dias de engarrafamento no coletivo ou metrô com lentidão exaustiva...

   
Órfãos - Há quem diga que esse livro é apenas mais uma jogada de marketing em cima do tema - já bastante explorado. Há quem considere a parte inicial, que conta a história de vida dos seis irmãos da família Gandy antes do fatídico dia da onda gigante, desnecessária, uma enrolação. Eu, particularmente entendo quem possa pensar dessa maneira, mas nenhum desses aspectos me fez gostar menos da obra. Aliás, o filme "O Impossível", que trata de uma família sobrevivente na Tailândia, já havia me ganhado. Histórias reais já arrebatam muitos pontos no meu score. No livro, a tragédia do Tsunami é contada a partir do Sri Lanka. A parte inicial mostra a união dessa família e as habilidades que eles vão ganhando ao longo do tempo através justamente do tipo de criação diferenciada que eles recebem. É preciso paciência e um pouco de sensibilidade para compreender, lá na frente, que o que vem antes da tragédia em si vai justificar a superação encontrada no clímax. Gostei de verdade. Livro para ler sem muitos compromissos, para deixar voar o pensamento.